Nós no interior do país temos
pouca crença!
Como é do conhecimento geral
o Basquetebol vive período eleitoral, após décadas de consulado de Mário
Saldanha. No momento da saída devemos todos estar reconhecidos pelo seu gosto
pela modalidade que chegou a atingir patamares onde no futuro só com muita
dificuldade voltaremos a chegar. Mas deixa igualmente uma teia, construída à
sua sombra que de forma subtil se foi criando e que de tão enraizada será bem
difícil de erradicar.
Se a tormenta nacional é sombria, as pequenas associações lutam
desesperadamente para não serem apanhados pelos tentáculos federativos, que
tudo fazem para alargar as suas garras cada vez mais afiadas.
Urge assim elaborar um plano de emergência a colocar em
prática de imediato e com um período mínimo de duas épocas. Este deve ter como
objetivos a redução de custos com o respetivo equilíbrio financeiro da FPB e
igualmente o aumento de clubes e praticantes. Parece um contrassenso, mas é
exatamente essa redução de valores cobrados a clubes e atletas que fará
aumentar os clubes participantes em provas e naturalmente o número de
praticantes. Afinal é para eles que existem treinadores, árbitros e dirigentes!
Mas quais os problemas que mais vão afligir os novos dirigentes?
O futuro presidente irá
deparar-se com dois lobies muito poderosos e agarrados a interesses que souberam
construir ao longo dos anos:
- A formação
de treinadores criou um grupo restrito cuja função seria formar os seus
pares. Os cursos de nível 1, gratuitos há uns anos atrás, podem ter custos para
os jovens candidatos a rondar os trezentos euros, acrescidos das deslocações,
alimentação e eventual estadia, se os candidatos não viverem nos grandes
centros urbanos!
Num país com um desemprego
jovem a rondar os 40%, faria sentido que o montante
a pagar fosse simbólico, afinal o curso já é financiado pelo Instituto do
Desporto.
Mas, porque fica tão caro?
Os preletores, diretores de cursos e afins,
para além do salário que alguns já usufruem para realizar estas tarefas,
eventualmente destacados na federação, sem que com isso lecionem nas respetivas
escolas, descobriu que poderia ser pago (principescamente) para fazer aquilo
para o qual já o são. Resultado? Vejamos o seguinte exemplo:
No último plano apresentado
na Associação de Basquetebol do Alentejo, os candidatos pagariam 200 euros e
ainda se deslocariam ao Barreiro cinco vezes. Um jovem Alentejano gastaria no
mínimo setecentos euros, para mais tarde trabalhar voluntariamente no seu
clube.
Terá o novo presidente força para acabar com esta vergonha e colocar a
Escola Nacional de Basquetebol a trabalhar sem mais custos dos que aqueles que
por função já é financiada?
- Na arbitragem o panorama é ainda mais sombrio.
Os clubes vão falindo e se os
históricos abandonaram com estrondo, os mais pequenos fecham no silêncio de
quem não consegue pagar 3.100 euros/época só para a arbitragem, para jogar na
QUARTA divisão.
As vagas nas várias competições seniores não
conseguem ser preenchidas e todos assistimos a esse leilão anual de quem se
oferece para participar.
Os clubes faliram, mas os dirigentes federativos e associativos da
maioria das regiões são os mesmos nas últimas décadas! Porque será?
A explicação para este panorama é simples. Gastos excessivos na
arbitragem, com o argumento da qualidade dos intervenientes.
Se a qualidade dos árbitros é
inquestionável, medite o leitor sobre qual é a empresa deste país, que numa
deslocação de 5 pessoas (por exemplo) de Lisboa a Ponte de Sor, paga o
transporte aos 5 (como se fosse cada um em seu carro) e conta a distância até à
capital de distrito?
Não acreditam?
Vejamos: qualquer criança abrindo um site da internet verifica que a
viagem é de 268Kms. Qualquer empresa iria à falência se pagasse 454Kms, mais
prémio de jogo e eventualmente subsidio de refeição… aos CINCO!
Isto, se nenhum dos viajantes indicar uma residência que não habita,
mas que lhe permitirá indicar uma distância um pouco maior. Enfim, um
escândalo!
No plano de emergência, as
nomeações de todas as competições apenas deslocariam os árbitros para fora do
limite da sua Associação ou eventualmente na contígua. Apenas nas fases finais
das competições as deslocações poderiam ser maiores. Os oficiais de mesa seriam
sempre da respetiva associação. As despesas seriam apenas aos que efetivamente
utilizem a sua viatura.
O leitor começará a somar os
custos para formar um treinador, os seguros dos seus jovens, o salário
principesco aos que arbitram, preenchem a folha de jogo ou clicam no botão dos
24 segundos…e desiste de ser voluntário!
Temos assistido a brilhantes
intervenções dos candidatos a dirigentes da federação de basquetebol. As suas
intenções são as melhores, mas ficamos com a sensação que a maioria não faz
ideia que são estas as verdadeiras questões que levaram o basquetebol ao fundo.
Distraídos com as seleções, estatutos…enfim, assuntos importantes no topo do
edifício, mas desconhecendo que os alicerces (atletas e clubes) são minados e
asfixiados por uma minoria que não quis entender que agora é o tempo de dar, pois já receberam durante
muitas décadas.
Os novos dirigentes
conhecerão quanto custa a inscrição de um atleta sub 18?
Ou talvez o preço de uma
arbitragem do jogo de sub 16?
Quiçá, qual o vencimento do
diretor técnico da sua associação?
Terão os novos dirigentes a
preocupação com esta realidade?
Serão capazes de mudar este panorama?
A crença dos que trabalham voluntariamente pelo basquetebol é …NENHUMA!
Saibam fazer no país o que os clubes fizeram no Alentejo. Nesta região do país aceitámos todos que o basquetebol precisa de todos e como tal, reduziram-se as burocracias, afastaram-se todos os que estavam no basquetebol apenas por questões financeiras e os clubes vão-se mantendo em atividade, construindo o futuro, por vezes com resultados desportivos bastante aceitáveis!
Luís Francisco
Luís Francisco