30/11/2008

Amoroso lopes - dispensa apresentação e faz-nos pensar

Diogo Amoroso Lopes – Cheguei a treinar cinco horas por dia Imprimir e-mail
Escrito por Cátia Figueiredo
09-Jan-2008
Ao olhar para o calendário, Diogo Amoroso Lopes contabiliza hoje 54 anos ligados ao basquetebol. Como treinador e jogador passou por Coimbra, Moçambique, Açores e chegou mesmo a representar a Selecção Nacional. Em 1999 chegou a Cantanhede para coordenar um projecto municipal de incentivo à prática da modalidade, ao qual continua ainda hoje ligado. O desportista recuou no tempo e recordou com o Independente de Cantanhede aquele que foi um dos momentos "mais bonitos" da sua vida desportista.

"Eu penso que o mais bonito na minha vida, na actividade desportiva, aconteceu quando tinha dez anos. Um senhor da Faculdade de Letras, da Universidade de Coimbra, dirigiu-se a minha casa para solicitar ao meu pai se eu podia jogar basquetebol", recorda Diogo Amoroso Lopes, hoje com 64 anos.

Foi em 1953 que surgiu o primeiro convite para a modalidade desportiva, prática de que nunca mais se conseguiu desligar. O gosto pelo desporto já existia e, conta, qualquer tempo livre na escola era aproveitado para dar uma escapadela até ao campo de Santa Cruz, em Coimbra, onde vivia. É numa destas escapadelas para jogar futebol que um jovem pertencente à equipa de basquetebol da Associação Académica de Coimbra o vê e lhe faz a proposta de jogar no clube. "Lá viu que eu tinha uma capacidade motora que lhe interessava, ou postura, ou comportamento, não sei", conta.

O que mais marcou Diogo Amoroso Lopes, recorda agora, foi a preocupação do jovem estudante com a sua colectividade. "Esse senhor, o doutor Lúcio Lemos, foi a minha casa pedir ao meu pai, porque no deporto colectivo tenho que trabalhar para os meus colegas", reforça.

É com este episódio que se apercebe duma preocupação existente no desporto com o colectivo e do trabalho em função dele. Com o passar dos anos, viu tratar-se de algo essencial à prática desportiva e é hoje um dos principiais ensinamentos que passa aos jovens com que lida. "Eles são obrigados a estudar ao sábado e ao domingo para não faltarem ao treino de segunda", conta. "É que se tiram negativas, nós 'castigamo-los' internamente, sem jogar. E o grupo sabe que ele pode prejudicar a equipa porque não estudou. Tem que trabalhar para a comunidade."

Educação desportiva começa desde pequeno

"Eu tinha uma sensibilidade para o deporto por causa do meu pai", conta. Aos dez anos não tinha ainda nenhuma predilecção especial pelo basquetebol, mas já então gozava de uma forte educação desportiva. O pai foi praticante de diversas modalidades e o filho habituou-se desde cedo a seguir os passos do progenitor nesse campo. "Eu pratiquei futebol, andebol, basquetebol… Vários desportos. O meu pai praticou muito mais", conta.

Com o passar do tempo, é o basquetebol que se torna na modalidade principal, ficando os restantes desportos como actividades pontuais. A Académica de Coimbra mantém-se o seu clube até 1965, altura em que se oferece para a Guerra Colonial e vai para Moçambique. Em terras africanas é convidado também para jogar basquetebol e é na Associação Académica de Moçambique que começa a dar os primeiros passos como treinador.

Em Moçambique, Diogo Amoroso Lopes apaixona-se pela terra, pela luz, pelo calor, pela humidade, pela cor e pelos cheiros. "África era África, não há palavras para dizer o que aquilo é", explica. Recebeu alguns convites para voltar a Coimbra, mas a paixão por aquele continente fê-lo recusar.

Disciplina é essencial no desporto

Estava ainda em Moçambique quando um outro momento marcante aconteceu na vida do desportista. Em 1970 participa no Campeonato do Mundo Universitário pela Selecção Nacional, em Turim. "Dói muito lá chegar, é preciso trabalhar muito. Já naquela época cheguei a treinar cinco horas por dia", recorda, "mas é uma experiência fora do vulgar."

Cerca de dois anos depois acaba por deixar a carreira de jogador e passa a dedicar-se apenas ao trabalho de treinador. O curso de matemática que tirou nunca o exerce e, em 1975, o 25 de Abril trá-lo de volta a Portugal.

Até 1987 volta a estar ligado ao desporto de Coimbra e seguem-se dois anos como coordenador de basquetebol no Açores. O currículo continua com mais uma época ligado aos clubes de Coimbra, até que, em 1999, chega a Cantanhede.

No percurso que soma hoje já 54 anos ligado ao basquetebol, Diogo Amoroso Lopes encontrou ainda tempo para ajudar na formação de alguns clubes.

A disciplina garante ser um dos requisitos fundamentais para manter uma carreira desportiva, disciplina essa que o pai lhe passou desde muito novo e que ainda hoje impõe a si próprio. "Eu tenho que me disciplinar. Sou obrigado a fazer o meu planeamento e a cumpri-lo", explica. "Se eu não planear tudo, não vou a nenhum lado. Se eu não for disciplinado, como é que os meus atletas hão-de ser disciplinados?"

Desporto também é educação

Um projecto do município trouxe-o a Cantanhede em 1999 para consolidar o basquetebol no concelho. Desde então que se mantém a morar em Quintã (Cadima).

A iniciativa, conta, já viu nascer 10 clubes. Hoje mantém-se apenas seis, embora alguns tenham mais do que uma equipa. "A minha função não é ser treinador, é formar treinadores, formar dirigentes, formar árbitros, detectar as pessoas. Eu inscrevo-os e vão tirar o curso à Federação", explica. "O desenvolvimento não é só fazer clubes. E quem treina os clubes? É preciso arranjar instalações desportivas, material… chamo-lhes eu: factores de desenvolvimento."

Na lista de queixas estão hoje a escassez de crianças nalgumas escolas. A falta de apoio de alguns pais é outra das preocupações de Diogo Amoroso Lopes. "O desporto é uma oportunidade de poder educar e observar. Conhecemos a pessoa na mesa e no jogo. Temos que acompanhar, ver as reacções positivas e negativas. É com isso que se vai educar", explica.

retirado do site:
http://www.independentedecantanhede.com

1 comentário:

Unknown disse...

Eu fui um dos muitos felizardos que aprendi durante quase uma década a trabalhar com o Prof.Amoroso Lopes. Fiz a minha opção de continuar a ser adjunto de um grande mestre e tudo o que aprendi coloquei em prática ajudando na formação basquetebolistica dos seus filhos. A vida levou-o para Cantanhede e a mim para Évora, mas a dívida de gratidão mantém-se. Um agradecimento ao Sérgio por ter escolhido este texto. Acredito que daqui por uns anos, o Sérgio Rosmaninho será reconhecido igualmente como um dos melhores treinadores de formação do país.E assumo o que estou a escrever!
Luís Francisco