03/05/2016

O pai não é o treinador !

   Criei há uma década atrás um modelo de clube desportivo que acredito ser único no país. Vim de uma região em que o objectivo dos escalões de formação é “produzir” um atleta que entre na equipa senior todos os anos. O foco do ensino visava o "tal atleta" e cheguei a treinar uma equipa de basquetebolistas médios para que o potencial craque rodasse na competição da sua idade. Aprendi com alguns dos melhores treinadores nacionais da altura, sempre como adjunto, oferecendo-me para ser o seu braço direito, mas efetivamente para lhes “roubar” os ensinamentos. Neste nível de basquetebol fui pago e isso ajudou-me no início de vida. Foi graças a esse dinheiro que pude começar uma vida com mais desafogo
   Chegado ao Alentejo, recusei inicialmente participar num patamar que era claramente inferior. Essa soberba, própria da idade , foi sendo abafada pelo gosto de treinar.
   Não encontrando nunca as condições que já havia vivenciado, fui tentado (“forçado) por um docente da André de Resende, a revitalizar o Grupo Desportivo da escola. Numa cidade pequena, com poucos praticantes da modalidade e muito poucos treinadores capazes e disponíveis, crio o modelo de clube com (“pai treinador”- "mãe treinadora").
   Na verdade, o treino foi SEMPRE dado por mim e logo numa primeira fase recorri a alguns jovens treinadores para me auxiliarem com a grande adesão que o clube ia tendo. Posteriormente os atletas mais velhos que foram surgindo, eles próprios tornaram-se treinadores, mas para que todas as crianças jogassem todos os fins de semana, havia a necessidade de serem acompanhadas no jogo. Surgiu assim o "pai treinador".
 


   Esta figura era atribuída a alguém, que pelas suas capacidades pessoais, seria capaz de organizar a parte burocrática antes da competição, enquadrar no banco com incentivos às boas práticas desportivas e repreender no imediato se no calor do jogo, alguma criança tivesse um gesto menos próprio. 
   Posso afirmar com pequena margem de erro que mais de um milhar de jovens já jogou na André de Resende e mais de uma centena de pais foram “treinadores”. Tenho orgulho no modelo. Todos eles souberam desempenhar com sucesso esse papel e todos os jovens os recordarão sempre com um sorriso nostálgico.
   Recordo também eu Paulo Ágoas, ex praticante de rugby que virou treinador de minibasquete, José Silvestre também ele metido nestas alhadas sem ter direito de opinião. Mais tarde, outros lhe seguiram, que sem terem alguma vez dado um treino, obtinham vitórias retumbantes para as suas equipas. António Cuco rejubila com os seus 100% de vitórias, Cesário Varela chegou a ser aplaudido por todos os assistentes da bancada durante um desconto de tempo, Paulo Banha,José “Grande” e mais recentemente Pedro Serrano, João Calçada , José Trindade, Palmira Júlio foram alguns dos brilhantes treinadores que interpretaram na perfeição o seu papel.
   Qual foi então o segredo destes pais- treinadores? Assumirem o seu papel com rigor, sabendo que NÃO ERAM OS TREINADORES!
   Obviamente não foram eles que treinaram as crianças. Não seriam eles que fariam as convocatórias. Não lhes ocorreria inventar táticas ou interferir no jogo, muito menos reclamar com árbitros, treinadores adversários ou outros. Isso seria a inversão completa do modelo, transmitiria uma imagem degradante do clube, dos atletas e dos restantes pais, mas mais ainda, humilharia os jovens treinadores ( Sérgio Rosmaninho, Pedro Gouveia...), que assim se veriam desautorizados.  
A regra para estes pais foi sempre simples:
NÃO ÉS O TREINADOR... ÉS MUITO MAIS DO QUE ISSO!
   O modelo é o meu orgulho. As naturais falhas que ocorreram na vida do clube nunca foram destes “treinadores”! Recolho para todos nós os louros deste sucesso e sinto enorme orgulho dele.
   Esta época  2015/16 têm surgido problemas nos escalões dos mais novos e têm surgido as mais naturais críticas. Obviamente só existe um culpado: eu!
   A renovação de gerações também se vai fazendo com os pais. As gerações vão avançando, os filhos vão para a universidade e novos pais assumem novas funções. Não fui capaz de passar a mensagem corretamente. As falhas ocorreram pois pela confusão criada. A inteligência de todos nós, a paixão que colocamos e a disponibilidade que todos têm manifestado em ajudar fará com que arrepiemos caminho. Todos estamos a tempo de corrigir! Eu próprio assumo que para além dos 100% que dou, passarei aos 200%. Procurarei estar no banco em todos os jogos, farei eu próprio a gestão dos atletas, sabendo que Não haverá nunca convocatória. Apenas distribuir os atletas pelos respectivos níveis qualitativos.

   O pai NÃO É O TREINADOR! Não convoca atletas!  Não dá táticas! Não interfere no jogo...
   Ele é o garante das boas práticas que este clube tem vivido em toda a sua história. Ele é o suporte de todos os atletas deste clube que são reconhecidos por todos os seus adversários como especiais! Não são os melhores do mundo, não têm nenhum talento especial, NENHUM vai ser profissional de basket! Mas serão sempre os mais corretos com todos. Saberão ganhar sem fazer batota, reconhecerão a derrota e os seus treinadores entenderão as suas causas para as corrigirem no treino.
   OS PAIS e o TREINADOR são amigos, têm um respeito mútuo!
Na André de Resende não perguntam ao treinador se o filho joga. Perguntam ONDE!
Na André de Resende não desautorizam o treinador. Ajudam-no porque também ele está a aprender a ser melhor! 
Na André de Resende os melhores de todos SÃO OS PAIS! Os filhos, lindos e excelentes meninos, são o produto da educação cívica dos pais e desportiva do clube.
Na André de Resende quando um pai chega, todos os atletas o cumprimentam porque o respeitam. Ele é o exemplo para os mais novos.
    Nenhum adversário alguma vez questionou a nossa vitória.
Luís Francisco


Na sequência do texto acima, não faremos esta semana qualquer crónica aos jogos, ficando apenas o seu registo.

sub16/19  ElvasAndré de Resende
As raparigas aprendem muito a jogar em equipas mistas

Jogaram: João Ludovino, Luís Serrano, Susana Favarica, Iris Correia, Mariana Ramos, Mihaela Sandu, Sofia Pinto e Maria Pereira.

sub 14 A. Reguengos André de Resende
Um orgulho nestes petizes e um agradecimento ao adversário!


Quem ganhou? O Atlético de Reguengos! Tinha mais atletas, jogaram com empenho! Quanto registava o marcador?  Vitória dos 5 miúdos que vestiam de azul! No banco destes, para além dos 2 treinadores, uma mãe e uma avó  que apoiavam e incentivavam a miudagem, que se esforçavam por cumprir os ensinamentos de João Marques.
Jogaram: Tomás Rego, Gustavo Antunes, Guilherme Miguéns, Joaquim Barroso e Francisco Batista.
Um dia, quando forem mais velhos compreenderão melhor o sucesso deste dia!

sub 12 Salesianos x André de Resende
Jogaram: Miguel Rita, Margarida Correia, José Ramos, João Ludovino, Rui Banha, Rui Ramalhinho e Tiago Antunes.

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